diumenge, 21 de desembre del 2025

Jesus nasce filho de riders

 


José e Maria chegaram à cidade. Tinham passado meses confinados num centro nas Canárias. Uma estadia que se prolongou devido à incapacidade e à desumanidade dos partidos políticos e às suas contínuas querelas.

Arranjar casa na cidade é impossível, e ainda mais difícil para migrantes sem documentos. Sem lugar para viver e sem trabalho, acabaram por viver e dormir num parque. Os seus estudos e formação universitários não lhes serviram de muito. Não os deixaram recensear-se porque muitas câmaras municipais colocam enormes dificuldades neste processo. Não têm documentos, mas querem trabalhar. E Maria está grávida.

Ofereceram-lhes trabalho como riders e eles disseram que sim. Estão dispostos a tudo para poder viver dignamente e é uma das poucas saídas que têm. Como não têm documentos, têm de trabalhar com a licença de outro rider. Maria encontrou uma que lhe cedeu a licença gratuitamente, mas José tem de pagar uma percentagem de tudo o que ganha.

Emprestaram-lhes uma bicicleta e compraram outra muito barata no Wallapop. E também compraram o equipamento porque a empresa nem sequer lhes dá a mochila. Não são bicicletas elétricas e, portanto, estão em desvantagem em relação aos outros. Fazem uma série de entregas, porque para conseguir um salário mínimo é preciso trabalhar muitas horas e ter sorte. Algumas gorjetas esporádicas permitem-lhes ter algum rendimento extra e sobreviver.

Aproxima-se o dia do nascimento, mas ambos continuam a trabalhar. Maria faz menos entregas porque tudo lhe custa muito mais. José compensa trabalhando mais horas.

À meia-noite, Maria entrou em trabalho de parto. Ligaram para uma ambulância, mas como o parque onde dormem está fechado, os serviços médicos não conseguem chegar. Teve o bebé com a ajuda de quem ali dormia. Todas as pessoas se mobilizaram e, durante a noite, acompanharam-nos, ofereceram e ajudaram tudo o que puderam.

De manhã, quando abriram o parque, levaram-nos para um hospital e, após um reconhecimento médico, deram alta aos dois, mãe e filho.

A notícia espalhou-se entre os estafetas, pela cidade e através das rádios e jornais. Ambos, José e Maria, são muito queridos e os seus colegas conseguiram arranjar um quarto para que se instalem durante alguns meses. Graças às notícias, muitas pessoas conheceram melhor o trabalho dos riders e agora, sabendo as condições em que trabalham, a maioria dos clientes trata-os melhor. Ao ver o eco da notícia, o Governo viu-se obrigado a não dificultar tanto o recenseamento.

Finalmente, no dia 6 de janeiro, permitiram que se recenseassem. E também no dia 6, o Parlamento aprovou uma emenda à lei da imigração que agiliza a regularização de pessoas sem documentos para que possam trabalhar e ter uma vida digna. A coincidir com isto, as empresas de riders deram um primeiro passo e decidiram dotar todos do equipamento mínimo para trabalhar.

Ao menino puseram o nome de Jesus.

Desde Belém , para TV Belém , Laia Bonet 

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